quarta-feira, julho 19, 2017

Mulher do pai, de Cristiane Oliveira **

O que mais incomoda em “Mulher do pai” (2016) é a sua rigorosa previsibilidade. E não só em termos de roteiro – o filme da diretora Cristiane Oliveira obedece a uma lógica narrativa óbvia e que beira a preguiça criativa. Fotografia e edição são corretas em sua concepção e execução, oferecendo uma moldura formal adequada no retrato de um interior rio-grandense rústico, melancólico e algo tedioso. Tais aspectos estéticos esbarram, entretanto, numa encenação travada e na falta de uma maior ousadia artística-existencial. A história de descobertas morais e sentimentais por parte de personagens adolescentes já foi retratada várias vezes no cinema e em alguns casos rendeu obras memoráveis, principalmente pelo motivo de seus realizadores privilegiarem o vigor narrativo, o que não é o caso de “Mulher do pai”. Os elementos cênicos são dispostos na tela de maneira burocrática, como se a cineasta seguisse as regras de um manual do gênero “drama de formação”. Por outro lado, mesmo a temática da produção transpira um incômodo subtexto genérico e moralista, quase pudico. Em uma obra que tem o despertar sexual como um dos seus principais motes dramáticos, o erotismo poucas vezes se manifesta de forma gráfica e contundente (na realidade, há apenas uma efetiva sequência de sexo, e mesmo assim tendo uma prostituta em cena). A questão do incesto se desenvolve sob uma desgastada perspectiva carregada de simbologia cristã pequeno-burguesa. Nesse sentido, não há como esquecer o recente “Sangue azul” (2014), que destroça tal percepção obscurantista a partir de um ideário libertário e poético.

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