quarta-feira, maio 30, 2007

Filmes da Semana


Escola de Idiotas, de Tod Phillips ***
A Grande Jornada, de Raoul Walsh ***1/2
O Último Pistoleiro, de Don Siegel ****
A Montanha Sagrada, de Alejandro Jodorowsky ****
Mundo Cão, de Gualtiero Jacopetti ***1/2
Gaviões e Passarinhos, de Pier Paolo Pasolini ***1/2

quinta-feira, maio 24, 2007

Vermelho Como o Céu, de Cristiano Bortone **1/2


Essa produção italiana de 2004 apresenta uma trama curiosa baseada em fatos reais: menino do interior fica cego em um acidente, é enviado para uma escola de deficientes visuais e lá acaba desenvolvendo um gosto especial para fazer filmes. O diretor Cristiano Bortone consegue oferecer alguns bons momentos para o espectador, principalmente na bela fotografia que registra os campos do interior italiano e em algumas seqüências que mostra o protagonista e seus colegas fazendo os tais filmes. Mas “Vermelho Como o Céu” não consegue ir mais além do que isso. Algumas passagens que evidenciam a inocência infantil até têm um certo encanto. Entretanto, acaba sendo muito pouco diante das possibilidades promissoras que um argumento como o do filme fazia pressupor. A ousadia do protagonista mirim parece não tem contagiado Bortone, que optou por apenas realizar uma obra excessivamente convencional.

Terra Fria, de Niki Caro **

O que mais se ouve dizer sobre “Terra Fria” é que esse é um filme “corajoso” por mostrar com realismo questões importantes como violência doméstica, machismo, preconceitos, etc. Isso até chega a ser verdade, mas dá para dizer que devido a esse fato o filme é bom? Não necessariamente. Por mais que possamos ficar impressionados em alguns momentos pela crueza com que “Terra Fria” aborda a sua temática, a sensação que ficamos em boa parte do filme é de puro marasmo. A diretora Niki Caro faz um registro burocrático e sem alma de uma história que pede uma visão mais visceral. Há até algumas belas tomadas da região de Minnesota, mas é muito pouco para tirar “Terra Fria” do mero lugar comum. E a “grande interpretação” tão comentada de Charlize Theron no papel principal se limita a não parecer tão gostosa como geralmente ela é.

terça-feira, maio 22, 2007

Ellektra, de Rudolf Mestdagh ***1/2



Essa produção belga de 2004 é surpreendente em alguns aspectos. O diretor Rudolf Mestdagh cria climas quase surreais em algumas seqüências, além de revelar uma fina ironia em algumas cenas que surpreendem pela violência e escatologia. Além disso, a progressão da trama “Ellektra” causa uma permanente sensação de estranheza para o espectador. É como se fôssemos preparados para assistir uma obra fortemente marcada pela temática da vingança, mas com o tempo a história vai se convertendo de uma forma coerente e original para uma exaltação à tolerância. É claro que os mais cínicos podem ficar decepcionados com a conclusão proposta por Mestdagh, mas a mesma acaba tendo um impacto considerável. Além disso, “Ellektra” oferece belos momentos envolvendo realidade virtual, abordando a mesma sob um ângulo diferenciado.

Van Helsing, de Stephen Sommers *


Se fôssemos colocar no papel, “Van Helsing” seria um filme altamente promissor. Afinal, junta o personagem título (um dos mais carismáticos da história do horror no cinema e na literatura) a uma trama que reúne algumas das principais figuras do universo fantástico (Drácula, Frankenstein e lobisomens), além de contar com a produção de um estúdio de primeira linha. O resultado, entretanto, fica muito aquém das expectativas. Pensado como uma combinação de terror e aventura, “Van Helsing” não assusta quando deveria ser apavorante e não empolga com as suas seqüências de ação. A verdade é que Stephen Sommers foi uma escolha equivocada para o filme. Ele é um cineasta que carece de estilo e brilhantismo, sendo que temos a permanente sensação ao assistir “Van Helsing” que ele nunca viu um filme de horror na vida. Isso fica mais evidente quando assistimos outras produções recentes do gênero terror como “Terror em Silent Hill”, de Christopher Gans, e “Viagem Maldita”, de Alexandre Aja, obras que combinam com habilidade várias referências e clichês do horror e trazem simultaneamente uma visão particular e original dos seus respectivos diretores.

No mais, Hugh Jackman no papel de Van Helsing parece ter esquecido que não está mais encarnando Wolverine, fazendo-nos ficar com saudade das memoráveis caracterizações de Peter Cushing e Anthony Hopkins para o mesmo personagem.

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)


O Sabor da Melancia, de Tsai Ming-Liang ****
Hannibal – A Origem do Mal, de Peter Webber ***
Hércules 56, de Sílvio Da-Rin ***
O Tigre e a Neve, de Roberto Benigni **1/2
Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato Ciasca ***1/2
Somente Deus Por Testemunha, de Roy Ward Baker ***1/2
Earth vs. The Flying Saucers, Fred Sears ***
Kill, Baby, Kill, de Mario Bava ****
Feast, de John Gulager ***
Breaking News – Uma Cidade em Alerta, de Johnny To ****
King Kong contra Godzilla, de Ishiro Honda ½ (meia estrela)
O Cristal Encantado, de Jim Henson e Frank Oz ***1/2
Sombras do Terror, de Roger Corman ***

quarta-feira, maio 16, 2007

Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Jr. ***1/2



Tenho observado uma tendência atual do cinema brasileiro na realização de documentários focando nomes expressivos da música brasileira. A qualidade artística dos mesmos varia entre o bom (“Cartola”, “Coisa Mais Linda”) e o excepcional (“Doces Bárbaros” e “Moro no Brasil” – se bem que esse último foi dirigido por um finlandês...). Independente disso, entretanto, é extremamente salutar esse resgate do melhor que já produzimos em termos musicais não só para velhos apreciadores como também para aqueles que desconhecem alguns dos tesouros da MPB. Nesse sentido, “Fabricando Tom Zé” consegue conciliar esses aspectos: é exemplarmente didático ao detalhar a carreira do genial músico baiano e também está em perfeita sintonia criativa com a concepção anárquica de arte de Tom Zé. O cineasta Décio Matos Jr. evidencia para o espectador muito dos aspectos complexos e contraditórios da carreira e da música de Tom Zé, mostrando como ambas estão intrinsecamente ligadas. O diretor não cai na armadilha fácil de vitimizar ou louvar excessivamente a figura do músico, mostrando com sensibilidade a sua dimensão humana, com o próprio Tom Zé em vários momentos dando depoimentos desconcertantes em que desmistifica a própria arte. Além disso, “Fabricando Tom Zé” é recheado de ótimos registros de shows do artista em questão, mostrando a estranha junção entre vanguarda e popular tão típica da música do Tom Zé. Certamente quem não conhecia muito bem o cara depois de assistir o documentário em questão vai correr atrás de discos fantásticos como “Todos os Olhos”, “Estudando o Samba” ou “Com Defeito de Fabricação”.

Scoop - O Grande Furo, de Woody Allen ****



Como em todos os filmes desses últimos anos de Woody Allen, “Scoop” não apresenta qualquer novidade dentro do universo do diretor nova-iorquino. Ou seja, quem não gosta do cara continuará não tendo motivos para mudar de opinião. Talvez, entretanto, esse seja um dos grandes baratos do seu cinema. A obsessão de Allen em ficar retrabalhando os seus velhos cliclês revelam muito mais uma postura autoral coerente do que falta de criatividade.

Em “Scoop”, temos uma trama policial em tom de farsa que remete diretamente a outros filmes de Woody Allen como “Misterioso Assassinato em Manhattan” e “O Escorpião de Jade”, o próprio Allen no eterno papel de mal-humorado sarcástico, a trilha sonora repleta de jazz, uma fotografia sóbria e elegante. O diretor pega todo esse material já tão conhecido do público e mesmo assim consegue dar uma abordagem vigorosa e refrescante. Por mais que estejamos acostumados com seu estilo, ainda sempre há algo que consegue nos surpreender, desde alguma brilhante tirada cômica de Sid Waterman (Woody Allen), o veterano e desastrado mágico metido a detetive, até a impagável gozação feita com a figura da morte, constantemente ludibriada pelo falecido jornalista picareta Joe Strombel (Ian McShane).

“Scoop” certamente não está no mesmo nível criativo de “Match Point”, o filme imediatamente anterior de Woody Allen. Mesmo assim, é uma obra de peso, figurando tranqüila entre as melhores produções exibidas este ano nos nossos cinemas.

Impulsividade, de Mike Mills ***1/2



“Impulsividade” pode geral algum preconceito pela sua origem. Afinal, faz parte do circuito independente norte-americano, que geralmente produz obras pretensiosas e chatinhas. A excelente trilha sonora, composta basicamente por belas canções da genial banda norte-americana The Polyphonic Spree (uma sensacional mistura de psicodelia e cantos de corais), pode acentuar mais essa impressão de que o filme esteja preso a este nicho. A verdade, entretanto, é que “Impulsividade” transcende muito ao mundinho indie. É um filme que impressiona pela crueza e sensibilidade com que aborda a sua temática, no caso, um jovem com distúrbios de hiper-atividade. O diretor Mike Mills evita as soluções fáceis, fazendo com que a trajetória de Justin Cobb (Lou Taylor Pucci) seja marcada por várias dificuldades e dilemas típicos de um adolescente tão complicado. Mesmo a forma com que as drogas estimulantes são mostradas revela uma franqueza admirável. E Mills também opta sabiamente por um estilo de filmas mais clássico, não caindo em uma edição video-clip tão comum para este tipo de produção e que com certeza banalizaria o seu filme.

Com a Bola Toda, de Rawson Marshall Thurber ****



É claro que “Com a Bola Toda” é uma comédia marcada por vários momentos grosseiros e escatológicos (todos magníficos, por sinal). Mas tentar reduzir o mesmo a um simples besteirol é um equívoco. Ao realizar um filme que tem como foco principal um torneio de queimada, o diretor Rawson Marshall Thurber obtém um resultado fabuloso. Ao mesmo tempo que as partidas da “modalidade” esportiva em questão são marcadas por um humor exagerado, é inegável que em tais momentos Thurber consegue obter uma dinâmica eletrizante, fazendo de “Com a Bola Toda” um dos melhores filme de temática esportiva dos últimos anos. E é claro que não dá para esquecer do genial documentário inserido dentro do filme, em que se ensina como se joga queimada, numa excelente sacanagem/homenagem a estética anos 50.

Por trás da sua comicidade escancarada e bufona, “Com a Bola Toda” traz nas suas entrelinhas uma ironia toda especial em relação a temas como superação pessoal e preconceitos em geral. O filme usa e abusa de clichês temáticos, mas também os subverte com um olhar ácido e bem humorado. Além disso, as interpretações de Ben Stiller e Vince Vaughn acentuam ainda mais o espírito anárquico do filme. Stiller é excessivo nos seus trejeitos e diálogos, mas essa atuação over cai como uma luva para White Goodman, o hilário e ridículo “vilão”, enquanto Vaughn está tão a vontade no papel do acomodado e boa praça Peter LaFleur que parece que nem está atuando.

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 estrelas)



Ping-Pong da Mongólia, de Nig Hao ***1/2
Homem-Aranha 3, de Sam Raimi ***
A Grande Jornada, de Raoul Walsh ***1/2
Near Dark, de Kathryn Bigelow ***1/2
Kin-Dza-Dza, de Georgi Daneliya *1/2
Brainstorm, de Douglas Trumbull ***1/2
O Último Pistoleiro, de Don Siegel ****
Chino, de John Sturges ****

domingo, maio 13, 2007

Sombras do Passado, de Florian Gallenberger **



Filmes indianos não costumam chegar com muita freqüência aos nossos cinemas. Dessa forma, é natural que inicialmente uma obra como “Sombras do Passado”, apesar de dirigida por um alemão, chame a atenção. A direção de arte e a fotografia exploram com eficiência elementos culturais típicos da Índia, como comportamento, religiosidade, vestuário, arquitetura. Mas todo esse aspecto exótico parece mais um truque para impressionar olhos estrangeiros, pois na sua essência “Sombras do Passado” é um filme que frustra imensamente pelo seu convencionalismo formal e temático. É apenas mais uma história de amor proibido que não se diferencia em nada de outras milhares que assistimos nos cinemas. A condução do filme por parte do diretor Florian Gallenberger é tão burocrática que em alguns momentos temos a sensação de estar assistindo a uma novela da Globo.

Em momentos como esse é que se ressaltam ainda mais as qualidades de produções impactantes como “Apenas Um Beijo”, de Ken Loach, obra vigorosa que oferece uma abordagem muito mais vivaz e franca para o tema do amor proibido do que esse insosso “Sombras do Passado”.

Pixote In Memorian, de Felipe Briso, Gilberto Topczewski e Edu Abad **1/2


Se fôssemos fazer uma lista dos 10 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, é quase certo que um dos escolhidos seria “Pixote”, de Hector Babenco. Nessa obra de 1981, Babenco dirigiu com maestria uma obra de forte conteúdo social, de expressivas tintas documentais, sem abrir mão de uma dinâmica cinematográfica notável que remetia até ao gênero policial. O documentário “Pixote In Memorian” pretende fazer uma revisão sobre o filme, abordando dois aspectos: os detalhes de sua realização e a vida do ator Fernando Ramos da Silva que interpretou o personagem-título.

A primeira parte do documentário é até bem sucedida. As entrevistas atuais com Babenco, atores e demais profissionais envolvidos na produção de “Pixote” (além de alguns admiradores ilustres como Caetano Veloso e Nick Cave) se entrelaçam com eficiência com imagens da época, oferecendo um panorama revelador não só da obra em questão como da própria dificuldade de fazer cinema no Brasil. Os depoimentos obtidos para o documentário impressionam não só pela emoção de alguns momentos como pelo bom humor de algumas declarações e “causos” contados.

É de se lamentar, entretanto, que essa inspiração da metade inicial de “Pixote In Memorian” não tenha se mantido na segunda parte do documentário. É claro que a história trágica de Fernando Ramos da Silva ainda é capaz sensibilizar, mas a forma com que a mesma é mostrada aborrece pelo tom meramente informativo e superficial com que é realizada.

Mesmo com essa irregularidade, “Pixote In Memorian” é um filme interessante no sentido de explorar um ramo pouco trabalhado dentro da produção documental no país que é contar a história do cinema brasileiro. Seria muito bom que aparecessem outras obras dispostas a dissecar alguns clássicos da cinematografia nacional.

O Enviado, de Nick Hamm *



É até meio difícil fazer um comentário sobre esse filme. O problema é que faz poucos dias que coloquei um post neste blog falando sobre “O Amigo Oculto”, sendo que os problemas que apontei nesse último são quase que os mesmos que observei nesse “O Enviado”. As duas obras, inclusive, contam com Robert De Niro em interpretações que certamente não entrariam na lista dos seus momentos mais expressivos. Para resumir, o que se pode dizer de “O Enviado” é que Nick Hamm não mostra o menor talento para o gênero horror. Os pretensos momentos de suspense são pífios, não apresentando qualquer tensão, enquanto que as seqüências mais explícitas (ou seja, aquelas que deveriam trazer violência, sangue e algumas escatologias) são tão comedidas a um ponto que beira o constrangedor. No final das contas, é apenas mais um filme medíocre e inspiração que não vai agradar aos fãs do terror e suspense e nem vai agradar aos neófitos em tais gêneros.

Feira das Vaidades, de Mira Nair ***



Esse drama de época baseado na obra literária homônima de William Makepeace Thackeray tem alguns aspectos bem interessantes. A começar pela requintada direção de arte que recria a Inglaterra do século XIX com uma riqueza de detalhes impressionante. A diretora indiana Mira Nair também consegue estabelecer um forte clima de sensualidade ao mostrar uma Inglaterra fascinada pelo encanto exótico da Índia colonial e também no focalizar a insinuante protagonista Becky Sharp (Reese Witherspoon). Nair também consegue desenvolver uma narrativa ágil, fazendo com nos interessamos pela trajetória conturbada de Becky, uma mulher que faz de tudo para ascender socialmente, mas que acaba esbarrando numa série de preconceitos e hipocrisias típicos da sociedade inglesa da época. O que não permite que “Feira das Vaidades” seja uma obra realmente acima da média, entretanto, é o fato de Nair acabar sucumbindo a pomposidade e ao convencionalismo que geralmente rondam o gênero do filmes de época. Falta também a “Feira das Vaidades” uma certa leveza irônica, presente no texto de Thackeray, que faz com que o filme caiu em alguns momentos num drama excessivamente sério, o que não combina muito com o espírito da obra.

Dia de Festa, de Toni Venturi e Paulo Georgieff ***1/2

Confesso que fui assistir “Dia de Festa” por questões puramente circunstanciais. Eu estava passando um domingo assistindo alguns filmes num festival que teve aqui em Porto Alegre nesse último verão, sendo que o filme em questão iria ser exibido antes de “Scoop” de Woody Allen. Era assistir “Dia de Festa” ou ficar umas duas horas matando tempo. Resolvi encarar o documentário, apesar de estar bem desconfiado, afinal o diretor Toni Venturi é o mesmo que fez o chato “Cabra Cega” e a temática não era das mais atrativas: um dia de ocupações simultâneas em alguns prédios de São Paulo por parte dos Movimento dos Sem-Teto. Vendo a produção em questão, entretanto, tive uma baita surpresa. Mesmo caindo no panfletário descarado, os diretores Toni Venturi e Paulo Georgieff realizaram uma obra ágil, marcada por um excelente trabalho de montagem que consegue conciliar com habilidade diversas ações (em essência, depoimentos, reuniões do movimento e as invasões em si) sem tornar a narrativa confusa. Em algumas seqüências, inclusive, “Dia de Festa” tem um pique de um verdadeiro filme de ação.

Independente da posição que possa ter em relação à questão do Movimento dos Sem-Teto, “Dia de Festa” é um filme que merece ser visto por suas inúmeras qualidades cinematográficas, coisa rara na decepcionante produção atual do cinema nacional.

terça-feira, maio 08, 2007

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 Estrelas)


Dias Selvagens, de Wong Kar-Wai ****
Holywoodland, de Allen Coulter ***
Showgirls, de Paul Verhoeven ****
Gilda, de Charles Vidor ****
O Proscrito, de Howard Hughes e Howard Hawks **1/2

sexta-feira, maio 04, 2007

O Milagre do Candeal, de Fernando Trueba **


A marca autoral do diretor espanhol Fernando Trueba consegue ficar bem evidente em alguns momentos de “O Milagre do Candeal”, documentário realizado em Salvador, principalmente quando o cineasta retrata alguns números musicais. A força da música regional da Timbalada, associada com belas tomadas do bairro Candeal da capital baiana, tem um impacto considerável para o espectador. Ao invés de se concentrar em fazer um inventário musical da região, entretanto, Trueba quis mostrar o quotidiano dos moradores do local e os projetos sociais coordenados pelo músico Carlinhos Brown, fazendo com que “O Milagre do Candeal” em várias seqüências tenha o formato de uma espécie de propaganda institucional, tirando muito da espontaneidade e vivacidade oferecidos pelos números musicais citados acima. Se Trueba tivesse como único foco a riqueza musical mostrada no Candeal (muito superior às bobagens de axé que costumamos ouvir nas rádios e televisão) certamente teria conseguido um resultado muito mais satisfatório do que esse comercial politicamente correto que se converteu “O Milagre do Candeal”.

Mulheres Desesperadas, de Esmé Lammers **1/2


Filmes holandeses sempre me despertam atenção, pois fico esperando que possa aparecer mais um louco genial como Paul Verhoeven. Bem, esse não é o caso de Esmé Lammers, diretora desse “Mulheres Desesperadas”, mas mesmo assim o seu filme acaba se revelando uma diversão bem aprazível. A trama, quatro donas de casa que diante das dificuldades financeiras se transformam em assaltantes de banco, é meio banal e não há maiores ousadias em termos formais. Mesmo assim, o filme tem os seus atrativos: as quatro protagonistas são bem gostosinhas e há algumas seqüências realmente engraçadas. Se o espectador quiser mais que isso, entretanto, o melhor mesmo é esperar o novo do Verhoeven.

O Amigo Oculto, de John Polson ½ (meia estrela)


“O Amigo Oculto” é aquela típica produção de terror feita por pessoas que parecem não gostar do gênero em questão e para um público não muito afeito a filmes nessa linha. O resultado acaba sendo uma obra sem personalidade e brilho. A produção até pode ser bem cuidada, mas fica-se com a impressão de que falta tudo: tensão, alguma maior ousadia estética, sangue, um roteiro menos quadrado (francamente, a “surpresa” no final da trama está evidentemente anunciada lá pelo meio do filme), atores que não parecem estar ali apenas batendo ponto (nesse sentido, é desapontador ver um ator do nível de Robert De Niro participando de uma bomba dessas – chega até a ser compreensível porque ele passa o filme inteiro com aquela cara de desanimado). Na verdade, gostando ou não do gênero terror, “O Amigo Oculto” é uma decepção para qualquer platéia.

quinta-feira, maio 03, 2007

Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade ****

A primeira vez que assisti a adaptação cinematográfica de “Macunaíma” realizada por Joaquim Pedro de Andrade foi na televisão alguns anos atrás. É claro que na época gostei bastante do filme, mas só pude realmente ter uma dimensão da grandeza dessa obra recentemente ao revê-la este ano na tela grande de um cinema numa versão restaurada. Confesso que não li o livro original de Mário de Andrade, mas o engraçado é que assistindo ao filme não sentimos qualquer traço de uma herança literária. É como se tudo aquilo tivesse sido projetado originalmente mesmo para o cinema. A direção inspirada de Joaquim Pedro de Andrade dispensa formalismos acadêmicos e coerências narrativas e consegue dar à obra um delicioso clima anárquico e bem humorado. A seu favor, Andrade também teve uma direção de arte em estado de graça, que parte inicialmente de uma estética rústica e genialmente “mal feita” e chega a uma concepção delirante cheia de influências tropicalistas típicas dos anos 60 (e sem parecer datada), além de contar com um elenco repleto de interpretações marcadas por uma espontaneidade e ironia antológicas e que não caem em nenhum momento na empolação de literatura declamada ou teatro filmado.

No geral, ao se assistir essa cópia nova de “Macunaíma”, pode-se sentir um frescor e uma ousadia ausentes em 99% da produção nacional atual. É um filme que expões sem pudores e falsos intelectualismos as contradições de uma cultura que se alterna entre a sagacidade e a jequice. Essa visão não condescendente aliada à criatividade cinematográfica exuberante de Joaquim Pedro de Andrade fazem de “Macunaíma” uma obra muito mais atemporal que o próprio Cinema Novo.

Filmes da Semana (Cotações de 0 a 4 Estrelas)


300, de Zach Snyder **1/2
Marcello – Uma Vida Doce, de Mario Canale e Annarosa Morri ***
Lemming, de Dominik Moll ****
Um Céu de Estrelas, de Tata Amaral ***
O Mundo em Duas Voltas, de David Shürmann **1/2
Eureka, de Shinji Aoyama ****
Safe, de Todd Haynes ****